A pergunta não é quando a pandemia vai passar, mas sim, em que estado teremos saído dela.
O coronavírus vai passar! Cedo ou tarde, vai passar! Mas e o nosso orgulho, nosso individualismo, nosso egoísmo, nossa ignorância e arrogância? Vão passar? Convivemos com pandemias assim desde muito tempo. Pandemias estas que nos submetem a um estado de constante injustiça, desigualdade, indiferença, miséria, fome, desigualdade social. Até onde podemos aguentar este vírus que tanto nos aflige? Este vírus puramente humano que nos torna desumanos. Está difícil viver com o Covid, contudo, a humanidade estava insuportável.
Antes desta pandemia, todos vivendo para si, alienados, cegos para com o próximo, para com os problemas sociais. Cegos para a espiritualidade, para o amor, para Deus, como se não houvesse o amanhã. A única realidade que nos importava era a objetiva e o único valor era a utilidade. Hoje, trancafiados em casa, passamos a notar o quanto nossa existência é medíocre e que não somos nada sem o acolhimento da natureza, do planeta, do solo. Passamos a descobrir que podemos ser varridos para fora da face da terra, se ela assim o decidir, com apenas um componente ou elemento para nos deteriorar. Passamos a ver a realidade como ela é. Que nosso status social não nos garante a vida, nem os bens materiais que possuímos podem nos salvar e que tampouco todo o dinheiro do mundo pode vencer esta ameaça invisível. Percebemos que somos frágeis, fugazes e absolutamente limitados, em mente, corpo e alma. Sempre fomos assim sem perceber. Mas foi preciso um vírus para nos fazer encarar a nossa própria insignificância.
E hoje somos obrigados a ser mais humanos. Este vírus está nos desafiando a lutar contra os nossos demônios e a colocar à prova nossa integridade frente ao próximo. É hora de se doar mais, de se sacrificar mais, de se solidarizar mais. Nós estávamos doentes há muito tempo. Mas foram só os jornais noticiarem mortes aleatórias que nós já entramos em pânico, afinal, ninguém quer morrer, mas ninguém até pouco tempo se importava com a morte propriamente dita. Foi necessário um vírus letal para nos conscientizar sobre até que ponto a morte importa. E ela importa quando bate em nossa porta em forma de vírus.

Espera-se que assim que a pandemia acabar, possamos ser pessoas melhores. Voltaremos normalmente às nossas atividades ignorando a sociedade doente em que vivemos, ou voltaremos mais “humanos” e sensibilizados com a injustiça e as dores do mundo? Esta pandemia é um teste para provar a nossa sanidade, empatia e sensibilidade.
Ramon Ribeiro - Professor e Redator