O ofício de sapateiro é uma profissão que tem mantido as tradições de nossa terra e de nossa identidade ourofinense. Um trabalho digno e honesto que tem acompanhado sempre a evolução e a história de nossa cidade e também a do Brasil.
Somos um país berço de uma sociedade guerreira que sempre lutou por melhores condições de vida através do trabalho e do braço forte e a ofício de sapateiro se reflete nos garotos pobres da antiguidade que muitas vezes paravam de estudar para ajudar a família.
Esses pequenos garotos que representam uma geração anterior à atual, hoje são os poucos sapateiros que ainda habitam em Ouro Fino e prestam o seu serviço em seus humildes estabelecimentos, sempre com muita simplicidade e hospitalidade a seus clientes.
Eles, é claro, com seus mais de 50 anos de carreira, viram muita coisa acontecer e presenciaram transformações no mundo e em sua própria cidade que, com o passar do tempo, lhes trouxe sabedoria, vivência e a consciência de que a humanidade ainda tem muito a descobrir e muito a evoluir.
Representantes de uma profissão que está quase no fim, por conta do Estatuto da Criança e do Adolescente, que proíbe jovens a trabalharem com produtos perigosos à saúde, os últimos sapateiros de nossa terra nos fazem enxergar um passado de muitas dificuldades e um futuro de muitos acontecimentos de impacto global. Isso mostra que eles estão por dentro, mesmo sendo considerados tão arcaicos.
Podemos destacar entre eles o sapateiro Antônio de Freitas Bueno.
Ele nos conta o que já passou desde a sua infância quando começou a trabalhar como engraxador de sapato ainda garoto.
Na profissão há 65 anos, Antônio nos diz que já viu muitas mudanças em Ouro Fino durante sua longa história de 267 anos de fundação, como a Estrada de Ferro e a passagem do trem a vapor em seu bairro.
Começando na profissão com 16 anos idade, em pouco tempo, o ofício no ramo de sapatos definiu sua vida profissional, sabendo assim tudo o que um sapateiro profissional sabe fazer, como desenhar modelos e fabricar calçados. Porém, todo o material necessário para esta produção encareceu e hoje seu ofício se baseia apenas em concertos.
Tendo parado de estudar ainda no primário, Antônio se dedicou alguns anos ao seminário e depois disso, voltou para casa e para sua verdadeira vocação como sapateiro.
Toda o seu profissionalismo o faz ter uma boa clientela, mas deixa claro que o lucro é muito pequeno e que a profissão está sendo deixada de lado por conta do enorme e exagerado consumismo e a cultura do descartável. Com tantos sapatos nas vitrines e muitas vezes em promoção ou liquidação, as pessoas hoje preferem trocar o velho pelo novo em espaços de tempo muito curtos e isso representa a extinção do ofício de sapateiro daqui a alguns anos.
Hoje, Antônio nos diz que sua profissão logo cairá no esquecimento e que sua renda se define mais em sua aposentadoria do que na própria profissão, pois como foi dito, o lucro é pequeno e a procura está ficando cada vez mais rara.
Em entrevista, perguntamos ao Antônio a sua opinião sobre a situação financeira do Brasil e sua resposta é imediata e convicta: "crítica, grave e turbulenta". Mas também nos traz otimismo ao elogiar o prefeito Maurício pela boa administração da cidade.
Diante da política e economia do país, a vontade de assistir aos programas jornalísticos na TV é zero, pois tudo lhe causa decepção e inconformidade, diante de tantas notícias sobre roubos e desvios.
E sua visão sobre a juventude atual é que hoje, os jovens estão extremamente avançados em tecnologia, informação e conhecimento. Algo que era ficcional em sua época, hoje tudo ganha vida. Em sua opinião, o que realmente é uma ameaça para esta juventude é o consumo liberal e legalizado de drogas, que os poderá prejudicar para toda a vida.
Opinião essa que também pertence a Ismael, também sapateiro há mais de 50 anos em nossa cidade e que veio de São Paulo para Ouro Fino em busca de uma vida mais fácil e tranquila, onde pudesse solidamente construir sua família e seu negócio.
Já tendo sido dono de uma fábrica de calçados que atendia a demanda de toda a população regional, hoje Ismael leva uma vida mais simples em seu próprio estabelecimento onde presta seus serviços, e que por sinal, contam com uma boa freguesia.
Ele também nos conta as diversas mudanças pela qual passou Ouro Fino e se diz surpreso com a presença de tanta tecnologia nos dias de hoje. Fielmente crente na bondade de Deus, Ismael demonstra sua fé nos dizendo que nada acontece sem que Deus permita e que apesar de também ter parado de estudar na 4° do Ensino Fundamental, ele sempre motivou e incentivou seus filhos a estudarem ao máximo para terem seu lugar na sociedade e hoje, todos são excelentes profissionais, com família e indepêndencia.
Estas duas personalidades são ícones de uma Ouro Fino que tem escondida em seu patrimônio, histórias que dariam um acervo cultural e até mesmo best-sellers. Por que Ouro Fino tem muito o que mostrar de seu povo, principalmente aqueles que aqui tem suas raízes culturais e familiares.
Com toda certeza, tudo é um grande tesouro. Um tesouro que sempre precisa ser descoberto.
Equipe Jornal Folha de Ouro
Reportagem: Ramon Ribeiro / Bruno Mancinelle
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